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Polarização, ainda uma palavra-chave no cenário eleitoral

Atualizado: 12 de nov. de 2020

Divisões que marcaram eleições nacionais tendem a perder força nos pleitos locais - será?


Arte: Ghabriella Costermani e Róbson Martins

Por Ghabriella Costermani Machado e Róbson Martins


Você percebeu que os debates sobre política tornaram-se mais intensos nos últimos anos? Alavancada pelos algoritmos, a desinformação e o extremismo ideológico, a polarização nas redes aumentou a sensação de um país dividido. Isso marcou profundamente as eleições presidenciais de 2018 - e os observadores estão atentos agora para saber até que ponto essa realidade também terá influência nos pleitos locais.

"Na hora de discussões nos grupos [na internet], você se vê colocado à prova naquilo que pensa. Então você diverge, acha que deve ser do seu jeito”, conta Naira Florêncio, professora de 51 anos.

Palavras como “hashtag”, “bot”, e “fake news” agora fazem parte do vocabulário de políticos e de outros burocratas. Graças à capacidade de engajar uma enorme quantidade de pessoas, a internet funciona como palanque; as mensagens de texto, como panfletos.

Entre as plataformas favoritas dos eleitores, estão o Facebook, o Instagram, o Twitter e o Whatsapp, que já conta com 136 milhões de usuários no país, o equivalente a mais da metade da população brasileira.


Arte: Ghabriella Costermani e Róbson Martins

Nas eleições presidenciais de 2018, inclusive, Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, então candidatos que foram ao segundo turno, trocaram acusações sobre o envio em massa de notícias falsas por meio do aplicativo. De acordo com uma pesquisa realizada pelo DataSenado no ano seguinte, 29% dos entrevistados acreditam que informações vistas no Whastapp influenciaram o seu voto.


“O revés traz cada vez mais intolerância”

Em média, 54% dos brasileiros apontam as diferenças entre visões políticas como as maiores causa de tensão entre as pessoas, destacou uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos em 2018. Nesse quesito, o Brasil está à frente de países como Chile e Canadá, mas atrás de Argentina e México.


Quando a divergência de ideias ou valores — que aceita o confronto saudável e racional de perspectiva — evolui para um cenário de polarização, a intolerância passa a permear as esferas mais íntimas da vida cotidiana. Ana Florêncio, estudante de publicidade e filha da Naira (citada há pouco), acredita que os conflitos aconteceram muito por causa das mídias sociais: "Praticamente toda a minha família é de extrema-direita, e isso fez com que tivessem muitas trocas de mensagens e discussões no grupo da família”.

Arte: Ghabriella Costermani e Róbson Martins

A psicóloga Edna Vianna esclarece que a polarização ganha evidência na internet pois ela oferece conteúdos alinhados aos pensamentos e ideologias dos internautas: "É confortável, no primeiro momento. Porém, o revés traz cada vez mais intolerância".

Para a profissional, há o costume de se “dividir apenas opiniões parecidas com a nossa”. Em outros termos, o ambiente online possibilita a permanência em zonas de conforto. Numa "bolha", bastam alguns cliques para expulsar as vozes que não se adequam ao que você pensa.

Logo, a percepção das redes sociais como campos de batalha influencia os usuários a desfazer amizades, bloquear contatos, ofender desconhecidos. “O grande desafio é poder admitir pensamentos diferentes”, conclui Edna.


Arte: Ghabriella Costermani e Róbson Martins

Municípios divididos?

Depois de entender como todo o processo funciona, está claro que as eleições municipais serão tão polarizadas quanto as de dois anos atrás, certo?

Errado! Especialmente fora das capitais, as disputas costumam ser mais pautadas por questões locais — como saúde, segurança, mobilidade urbana e zeladoria — que variam entre municípios.

Que tal fazer um teste? Quando um fato importante acontecer na região onde você mora, pesquise no Twitter ou no Facebook as palavras-chave relacionadas. Provavelmente alguém já terá comentado sobre o assunto!

“Existe uma continuidade entre o [ambiente] online e o offline, eles não estão desconectados. Eles estão em movimento contínuo”, aponta Jaqueline Hansen, mestre em ciência política pela UFMG e especialista em questões de polarização política.

Além disso, a formação de coligações está proibida nas eleições legislativas, e isso significa que partidos adversários não podem transferir votos entre si. Dificilmente, então, blocos partidários hegemônicos serão formados.

Em 15 de novembro, eleitores de 5.570 municípios escolherão seus prefeitos e vereadores. Nos locais onde for necessário o segundo turno, o retorno às urnas está marcado para o domingo seguinte (29).

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