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O uso de 'bots' realmente influencia seu voto?

Atualizado: 14 de nov. de 2020

Os robôs, do bem ou do mal, são uma realidade nas redes, mas seu alcance é controverso


Por Bruna Lima e Raissa Testahy


Ultimamente, novos termos, que remetem a novidades tecnológicas, têm se tornado comuns no cotidiano. Um deles é social bot. Bot nada mais é que diminutivo de robot, em inglês, ou robô, em português. Não, não é parecido com Andrew Martin, do filme “O homem bicentenário” (2000), ou mesmo com os "Transformers" (2007), dos carros que viram robôs. Os bots são “invisíveis” e poderosos.


O fato é que o futuro chegou e não temos carros voando e nem robôs dominando o mundo - não da forma retratada nos filmes. Os bots são softwares criados para realizar funções pré-programadas e simular interações humanas. E sim, eles ocupam a internet de inúmeras maneiras. Se você já passou pela situação de abrir um site e, logo em seguida, surgir uma caixa de conversa perguntando sobre um produto ou serviço, certamente você já viu um bot. Estes são os chatbots e, normalmente, são inofensivos e utilizados no marketing digital. Por outro lado, os social bots são mais avançados e, consequentemente, mais duvidosos, visto que sua atuação pode influenciar e/ou deturpar o debate social, cultural e político.


Arte: Bruna Lima

Da mesma forma que o advento da internet e das redes sociais ofereceu e oferece, por exemplo, informações sobre candidatos e eleições; estas podem ser manipuladas e/ou falsificadas, provocando alterações na discussão e no ‘fazer’ político. Uma pesquisa de opinião do Instituto DataSenado apontou que 45% dos 2,4 mil entrevistados decidiram o voto nas eleições de 2018 considerando informações vistas em alguma rede social. Nesse contexto, o uso de bots pode se tornar uma técnica potente para a disseminação de fake news, diminuição de senso crítico e polarização política.


Estudos revelam que os robôs nas eleições não são atuais e têm impacto pelo menos desde 2014. A Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP/FGV) identificou centenas de robôs durante as campanhas presidenciais de Dilma Rousseff, Aécio Neves e Marina Silva com publicações conduzindo aos sites destes e/ou os defendendo. Em 2018, os perfis automatizados tiveram maior protagonismo na disseminação das fake news, com mais de 3 mil contas suspeitas trabalhando em prol dos políticos, na época filiados ao PSL e ao PT.


Em 2020, a limitação das eleições por município poderia demarcar o exercício dos bots e facilitar sua atuação. No entanto, o fato não aparenta ser um estímulo: as perspectivas para as campanhas municipais ainda são tímidas. Há mobilização nas redes, porém, em menor escala se comparada aos anos anteriores e aos outros Estados. Para Adriane Figueirola, doutora em Comunicação e pesquisadora do Impacto da Inteligência Artificial no desenvolvimento de campanhas políticas, as eleições de São Paulo estão mais “vivas” que as “apagadas e devagar” do Rio de Janeiro. Ela cita o fraco engajamento do “tuitaço” pelos políticos - grande número de postagens no Twitter identificadas por uma hashtag comum. O panorama causa dúvidas em relação aos bots: há possibilidade de popularização e engajamento ou movimentos despercebidos, visto que a pauta não foi – até o momento – intensamente difundida pelos usuários.

Criação, desenvolvimento e execução

Segundo Aline Paes, mestre e doutora em Engenharia de Sistemas e Computação, com ênfase em Inteligência Artificial afirma que hoje, com os avanços tecnológicos, é muito mais fácil criar um bot: “A máquina nunca funciona sozinha, tem sempre uma pessoa ou um grupo de pessoas por trás que sempre dá a intencionalidade dos ataques coordenados” – postagens tendenciosas em massa. Ela também afirma que os ataques são feitos através do mapeamento de determinados assuntos em alta nas redes. A partir dessa visualização, os bots, a fim de deturpar, enfatizar ou mudar o foco de determinados debates, atuam compartilhando muitas informações por minuto. Vale ressaltar que as ações coordenadas nem sempre representam a utilização de robôs; podem acontecer quando membros de uma campanha estimulam suas bases para que sejam mais ativas, não contando com a espontaneidade muitas vezes esperada e necessária para o engajamento político.


À exceção da denominação técnica, é possível diferenciar os bots através de sua apresentação ao perfil do usuário. Um bot “do bem” não precisa se ocultar atrás de perfis falsos e aparentar ser um indivíduo real, uma vez que possui intenções boas ou inofensivas. Em agosto deste ano, a agência Aos Fatos lançou o “Radar Aos Fatos", sistema de monitoramento em tempo real da desinformação que acontece na web. A ferramenta possibilita checar o teor das publicações sobre as eleições municipais de 2020 compartilhadas no WhatsApp, Youtube, Twitter e na própria web, e conta com o apoio do robô Fátima em algumas dessas redes.


Arte: Raissa Testahy

Os bots “do mal” não possuem identificação de robô, uma vez que aparentam ser usuários reais. Ainda que mesclem com postagens diversas, a maioria aborda temas políticos, comentando em outras publicações ou subindo hashtags. O posicionamento dos bots “do mal” já foi notado por políticos nas campanhas de 2020. Um dos candidatos à prefeitura de Niterói declarou, em entrevista, que identifica ataques em suas redes: “Já reconhecemos diversos bots de ataque em nossas páginas. Nossa militância tem relatado que está recebendo muita mensagem de números desconhecidos com propaganda eleitoral”.


O Tribunal Supremo Eleitoral reconhece os perigos dos sistemas automáticos e das redes sociais. Neste ano, as autoridades estipularam regras específicas para as campanhas na internet, incluindo a proibição do uso de robôs e disparos em massa. Os perfis de impulsionamento das publicidades deverão ser registrados junto à Justiça Eleitoral e as mensagens anônimas serão proibidas - corrompendo com a ideia de perfis não humanos.


Ainda que exista um histórico de bots no Brasil, as eleições que se aproximam trazem questões sem respostas - pelo menos até o momento. Tanto para Paes quanto para Figueirola, é possível, tecnologicamente, criar mecanismos de alerta e detecção dos robôs. No entanto, o caminho mais interessante para ambas é o da educação. A conscientização sobre disseminação de notícias falsas e a desconfiança de perfis são algumas das ações necessárias para a obtenção de uma eleição municipal efetiva e responsável.

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