Mesmo assim, risco de contágio não está impedindo corpo a corpo nas ruas com eleitores
arte de João Eduardo Dutra
Por João Eduardo Dutra e Lucas Fonseca
O ano de 2020 tem sido totalmente atípico para a população mundial em razão da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), causador da Covid-19, doença que já tirou a vida de mais de um milhão de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesse cenário, como ficam as eleições municipais, cujo primeiro turno, em todo o país, acontece no dia 15 de novembro e o segundo turno, se necessário, dia 29?
Embora não exista uma proibição por parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para o tradicional corpo a corpo e alguns candidatos estejam adotando essa prática, ela contraria medidas de prevenção da Covid-19, que recomenda distanciamento social. Este ano, os apertos de mão, beijos e abraços dos candidatos em seus eleitores deveriam ser deixados de lado. Dessa forma, uma das possibilidades que os candidatos têm para destacar suas respectivas candidaturas é reforçar a atuação no mundo digital.
De acordo com Gisele Meter, psicóloga, especialista em marketing e consultora em comunicação política na Estratégia Parlamentar, consultoria focada em construção de comunidades e influência política digital, o cenário aponta para uma aliança entre a atuação presencial e digital, que não deveriam ser dissociadas. “Ser bom de chão importa muito, mesmo com a pandemia (nesse caso reforçar cuidados é fundamental), porém o digital passa de segundo plano para primeiro, ao lado da estratégia presencial. Se antes o digital era visto como um complemento, agora é visto como parte integrante de qualquer estratégia vencedora”, afirma.
Além disso, um fator importante a ser considerado nos ambientes digitais diz respeito à “humanização” dos candidatos. Por se tratar de um ambiente onde não é possível a presença física, o cuidado para que a imagem do político e suas respectivas interações com os eleitores não sejam “automatizadas” é fundamental para gerar autenticidade e credibilidade ao conteúdo. Caso contrário, a estratégia digital poderá ser um fracasso, justamente por não despertar o interesse do eleitorado.
“O que vejo é muito story, vídeo e cards [no Instagram] onde o político aparece com uma imagem posada, ou gravada por assessores, levando a um distanciamento e atestando a pouca produção de conteúdo feita pelo próprio candidato”, aponta Gisele Meter, que recomenda um perfil mais ativo por parte dos políticos no ambiente digital, da forma mais natural possível. “Daqui pra frente, não basta mais ser apenas influente, o político deverá ser um produtor digital ajudando a criar também os próprios conteúdos, principalmente em stories, aparecendo sempre da maneira mais nativa digital possível, caso contrário poderá perder espaço. E vale lembrar que não existe espaço vago na política, e muito menos nas redes sociais onde a atenção é cada vez mais escassa”, esclarece.
Para Anderson Ortiz, professor de Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF), a estratégia de muitos candidatos já se mostra diferente no meio digital em relação ao que tradicionalmente era feito em campanhas políticas. "No meio digital nós vemos uma apropriação de um quadro de referência voltado a uma temática jovem do netizen (termo utilizado para descrever uma pessoa ativamente envolvida em comunidades online ou na Internet em geral), usando uma estética ligada aos games, brincadeiras, memes, humor, entre outros. Isso também tem sido muito presente”, afirma.
Em 2018, as eleições já mostraram o poder e o impacto das mídias sociais e dos grupos de trocas de mensagens nas campanhas eleitorais, influenciando diretamente a formação de opinião dos eleitores. Dessa forma, o ambiente digital deverá ser mais uma vez decisivo para o resultado das urnas. Atento a isso, o TSE adotou medidas para evitar ao máximo os problemas que são inerentes a esse ambiente, especialmente em relação aos boatos e notícias falsas. Foram estabelecidas parcerias com algumas das principais plataformas digitais da atualidade, o que gerou, entre outras coisas, a criação de um um canal para denúncias suspeitas de disparo em massa.
Anderson Ortiz relembra esse trabalho feito pelo TSE, citando a importância que essas ações possuem não só para agora, mas para ocasiões futuras também. “O TSE tem tido um trabalho muito diligente no sentido de acompanhar o que as campanhas estão divulgando em termos de mídias tradicionais e mídias digitais. Então, alguém que estiver fazendo coisas ilícitas pode perder o mandato lá na frente, se ficar comprovado que houve isso. Por exemplo, tem uma portaria que o TSE baixou em relação ao uso de alavancagem de campanhas, elas estão proibidas e estão sendo monitoradas”, aponta. O professor também destaca mudanças ocorridas em aplicativos que visam a dificultar a ação de bots, ajudando assim no combate a desinformação. “Repara que o Whatsaapp agora tem o recurso de que quando uma mensagem está sendo muito replicada você não consegue passá-la para mais de um grupo de uma vez, você tem que ir passando de um a um, o que é uma coisa pouco conveniente, e isso certamente deve estar gerando problemas para os robôs que ficam fazendo aquelas alavancagens enormes, pelo menos essa é a expectativa”, conclui.
Do ponto de vista da atuação dos candidatos nas mídias sociais, Gisele entende que um eventual sucesso depende de um conjunto de fatores que vão além das plataformas. “Depende do comportamento dos eleitores na região, da aceitação das redes, de como as utilizam. Hoje, em pequenas cidades o Whatsapp e o Facebook são as principais redes, em grandes metrópoles o Instagram é a bola da vez, bem como o Tiktok vem ganhando força”, explica. No entanto, isso necessariamente deve estar aliado a quanto o político se sente confortável para estar nas redes sociais escolhidas. A especialista entende que essa decisão deve ser coletiva, entre equipe e político. “Antes de decidir sobre uma estratégia digital, é importante analisar o comportamento do público-alvo”, finaliza.
Komentáře