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Interações digitais indicam tendências do debate político

Atualizado: 7 de jan. de 2021

Agentes tradicionais, como televisão e pesquisas de intenção de voto, perdem centralidade


Créditos: Catiane Pereira e Pedro Menezes

Por Catiane Pereira e Pedro Menezes


As campanhas eleitorais nos últimos anos vêm apresentando inovações nas formas de propaganda e nas pesquisas. Com os elementos que surgem das interações em mídias digitais, o público se depara com outras formas de conhecer os candidatos e tudo isso influencia o voto. Agentes tradicionais nas campanhas, como a televisão, para propaganda e debates, e as pesquisas de intenção de voto, para conhecer a tendência do eleitorado, perdem a centralidade que tinham nas estratégias de campanha. Entre tantas mudanças dos últimos anos, a mais significativa, que ganhou muito destaque desde as eleições de 2018, é o uso acentuado das redes sociais por candidatos e pelo público.

O impacto não é pequeno. Uma pesquisa do Instituto DataSenado, divulgada em 2019, apontou que, no ano anterior, 45% dos entrevistados decidiram seu voto com base em informações obtidas através delas.


"Tenho certeza de que as redes sociais vão ser consideravelmente influentes para o resultado das eleições [de 2020]. Isso já se verifica inclusive em algumas tendências eleitorais marginais nas pesquisas das principais cidades do Brasil. Após as eleições em 2018, as campanhas passaram a interpretar e a entender melhor o porquê de trabalhar diretamente com redes sociais e como ter uma pessoa qualificada para isso é importante", afirma Lucas Calil, coordenador do Laboratório de Métodos Digitais da Divisão de Análises de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP-FGV).


Campanhas digitais: estratégicas para divulgar propostas

Até as eleições de 2018, acreditava-se que o cenário sempre seria necessariamente mais proveitoso a candidatos com mais tempo de propaganda eleitoral na tevê; desde então, há consenso de que a atmosfera se torna mais positiva àqueles que conseguem desenvolver boas estratégias de comunicação e relacionamento através dos meios digitais.

As regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinam que os candidatos podem fazer propagandas eleitorais em sites e páginas que sejam próprios do partido político ou da coligação. Em razão das restrições impostas pela pandemia, no lugar de caminhadas, grandes comícios e corpo a corpo, entram as selfies, vídeos, mensagens nas redes, e até "livemícios” (lives como forma de expor propostas políticas). No entanto, para o jornalista investigativo Ruben Berta, as campanhas nunca serão unicamente digitais:

’Acredito que apesar desse momento pandêmico que estamos vivendo, a tendência é que quanto mais se aproxima a votação, mais esse trabalho de rua seja intensificado. Eu tenho visto isso, apesar de não ser nada desejado, inclusive com algumas aglomerações’’.


Alterações no horário eleitoral e nos debates têm impacto na dinâmica da eleição

O horário eleitoral gratuito na tevê, atualmente, em vez de ser apresentado em horários longos e compactos, agora está tendo seu tempo dividido ao longo da programação. Este ano, com a pandemia de Covid-19, os tradicionais debates eleitorais também sofreram alterações e as campanhas digitais estão sendo mais procuradas.

Canais de rádio e TV transmitem a propaganda eleitoral gratuita em novo formato, apenas 20 minutos divididos em dois horários. As emissoras também reservam na programação diária 70 minutos para a veiculação de inserções de campanha eleitoral. De acordo com o pesquisador Afonso Albuquerque, professor do Departamento de Estudos de Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF), as campanhas tornam-se assim menos massivas para público geral.

’Quando a gente olha o horário gratuito proporcional, ele é um caos. Muitas pessoas e cada uma que aparece apaga a anterior. Também muitos partidos adotam estratégias incoerentes ou algo do tipo. Um horário longo na programação não é muito efetivo", afirma o pesquisador.

As regras para a realização dos debates eleitorais são definidas entre os partidos políticos e as emissoras de rádio e televisão, que devem então comunicar o acordo à Justiça Eleitoral. Este ano, algumas emissoras decidiram realizar debate apenas com um número bem restrito de candidatos. Segundo Afonso Albuquerque, mesmo com essas restrições impostas nas televisões, as redes sociais têm grande influência nos resultados das eleições.

"Este ano nós temos uma dinâmica de presença física muito limitada por conta da pandemia. Isso aumenta o peso do horário eleitoral. Mas o que realmente acontece é que a tevê é muito menos relevante do que nos anos anteriores. A internet, as mídias sociais e o Whatsapp se tornaram veículos muito significativos de campanha”, destaca o pesquisador.

Nova tendência: análise de redes sociais

Os especialistas não têm dúvida de que as redes sociais serão influentes nestas eleições de 2020. “Se vão ser tão decisivas e definitivas na articulação de candidaturas das principais cidades do Brasil, precisamos de um pouco de tempo para saber, mas certamente serão influentes para o resultado das eleições, disso eu não tenho dúvida alguma”, reitera Lucas Calil, da FGV.


Assim, com pessoas qualificadas para analisar o comportamento das pessoas, é possível mapear as tendências de voto. Segundo Calil, as redes sociais são relevantes para o desenvolvimento das campanhas eleitorais, principalmente para o convencimento do eleitorado em relação às propostas.

O pesquisador explica que o trabalho de monitoramento de redes sociais tem como objetivo identificar tendências e extrair conclusões relevantes através de informações públicas e acessíveis. Quatro eixos são os principais que compõem essa análise: categorização, análise linguística, análise de processamento e utilização de dados. Através desses pilares, tenta-se mensurar qual o impacto e os principais temas do debate público. No meio político, essas informações são vitais para candidatos elaborarem suas campanhas.

"É fundamental para os candidatos utilizar de forma estratégica as redes sociais tanto para extração de percepção social quanto de entendimento do que o eleitorado tem interesse. Quais são as visões e as preferências, a percepção em tempo real em relação a si próprio e aos adversários. Isso está crescendo, e fazer esse tipo de acompanhamento hoje é mandatório e interativo por parte das candidaturas", destaca Calil.

Engana-se quem pensa que o trabalho é simples. A pesquisa de análise de redes sociais é um ramo que contempla dezenas de profissionais, como linguistas, matemáticos, estatísticos, jornalistas, analistas políticos e designers. A tendência é que pesquisas nesse ramo cresçam nos próximos anos.

Arte: Catiane Pereira e Pedro Menezes

Pesquisas eleitorais são decisivas?

Se as análises de redes sociais vem crescendo, as pesquisas eleitorais já estão em nosso imaginário há muito tempo. Mas será que elas são - e continuam - determinantes para o resultado? O doutor em estatística e especialista em amostragem Neale Ahmed El-Dash explica que, para responder a essa pergunta, já foram realizados muitos estudos mundo afora e nunca se provou uma influência direta das pesquisas nos resultados. Entretanto, indiretamente não existem dúvidas. Afinal, as pesquisas afetam a exposição e a campanha desses políticos. As estratégias mudam, o candidato pode ficar desmotivado, entre outras variáveis.


Diante de tantos riscos, El-Dash afirma que pesquisas eleitorais são mais desafiadoras do que qualquer outro tipo de estudo sobre o perfil populacional. Afinal, quando se faz uma pesquisa eleitoral, o objetivo é buscar antecipar o resultado da eleição. "É uma pesquisa onde vai existir o valor para você comparar e alguém pode tentar dizer se você acertou ou errou. A outra questão relevante é que você tem que fazer essa previsão de forma pública, então você vai errar publicamente ou não", disse o especialista.

Outros fatores também apontados são o fato de a intenção de voto do brasileiro se alterar constantemente. Muitas vezes, a decisão do voto ocorre na véspera da eleição. As pesquisas eleitorais, portanto, são uma espécie de ‘’fotografia’’ do momento, dando apenas uma ideia de quais candidatos podem estar liderando em um determinado momento.


Sempre que chegam as eleições, as pesquisas ganham espaço. Termos como ‘’margem de erro’’ e ‘’amostragem’’ entram no vocabulário dos principais jornais. Mas como essas análises são feitas? El-Dash explica que as pesquisas podem ser feitas de três diferentes maneiras, com entrevistas pessoas, face a face; por telefone, às vezes com o auxílio de um computador; ou pela internet, por meio de um link para um questionário.


O fato é que, na última década, pesquisas de intenção de votos, nesses moldes, agora concorrem com as análises de rede social e a televisão deixa de ser a arena exclusiva para o debate público. Buscar acompanhar, portanto, as tendências nesses outros espaços torna-se importante para o cidadão interpretar o cenário eleitoral, o que nem sempre é fácil. Por isso, Lucas Calil, da FGV, acredita será importante haver uma renovação nos próximos anos em relação à educação digital, para que a sociedade compreenda melhor como funciona o debate público das redes, seu papel e importância. Isso vale, aliás, não só para os períodos de campanha eleitoral, mas para temas do dia a dia da política e da cultura.


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