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'Influenciador digital' é bom, mas não faz milagre

Atualizado: 12 de nov. de 2020

Público das redes estaria mais exigente nestas eleições com a performance desses atores?


Arte: Isabella Rodrigues Mello


Por Gabriel Gontijo e Isabella Rodrigues Mello


Tanto nas eleições presidenciais dos Estados Unidos quanto na do Brasil, ocorridas respectivamente em 2016 e 2018, os eleitores sentiram o peso de um personagem que se tornou decisivo em ambos os pleitos: o "influenciador digital". Desde então, ter muitos seguidores, especialmente seguidores engajados, pode transformar o mapa eleitoral de cada cidade, estado ou região. As alianças partidárias não são mais exclusivamente determinantes: o poder do influenciador sobre o eleitorado agora precisa ser levado em conta para os cálculos políticos.

O termo, originalmente em inglês digital influencer, segundo o dicionário de Cambridge, significa “alguém que afeta ou muda o modo que o outro se comporta”. Isso pode acontecer numa estrutura menor e influenciar pessoas do seu bairro ou rua, mas também pode ser alguém cujos argumentos se tornam conhecidos por diversas esferas sociais. Embora o conceito de “influenciador digital” já fosse conhecido do público em 2016, as eleições municipais do Rio e das demais cidades da Região Metropolitana daquele ano não sofreram um grande impacto desses atores. No entanto, o cenário mudou agora.

No Brasil, temos exemplos claros de posicionamentos, principalmente na internet. Segundo a pesquisa O Brasil e os Influenciadores Digitais, do Ibope, realizada no ano passado, 52% dos brasileiros, em média, seguem algum influenciador digital. Entre os mais jovens (16 a 24 anos), essa média sobe para 75% - contra 25% entre os que têm mais de 55 anos. Os "influenciadores" têm impacto na economia - promovendo determinados hábitos de consumo, por exemplo - mas sua presença na política é controversa. Assim, a legislação impõe certos limites à sua ação em período eleitoral (por exemplo, as campanhas oficiais não podem contratar influenciadores como cabos eleitorais). Mesmo assim, eles têm como se fazer presentes. Projetos como o Redes Cordiais trabalham para disseminar boas práticas políticas entre influenciadores, como se pode verificar no guia que criaram tendo em vista as eleições de 2020.


Hoje, um dos nomes mais em voga no Brasil na esfera dos influenciadores é o de Felipe Neto, carioca de 32 anos, nascido na Zona Norte do Rio de Janeiro. Neto começou seu trabalho na internet em 2010 com a postagem de vídeos sobre jogos em seu canal do YouTube. Hoje, o jovem atinge as mais variadas classes sociais, de crianças a adultos, e em suas contas nas redes sociais faz críticas ao governo atual e se posiciona contra determinados comportamentos da direita. Já Luís Ernesto Lacombe, jornalista que trabalhou em emissoras de televisão, trata em seu canal no YouTube de assuntos relacionados aos interesses da direita e é considerado um influencer bolsonarista. Mesmo dizendo que não se considera como tal, assim que anunciou a criação de seu canal, no dia 10 de julho de 2020, atingiu 1 milhão de inscritos em menos de uma semana.

Há também no cenário eleitoral deste ano influenciadores que, aproveitando sua fama nas redes sociais, estão concorrendo a cargos como o de vereador, e contam com o seu público digital para que possam se eleger. Segundo Maria Martha Bruno, jornalista especialista em política e cultura e diretora de conteúdo no jornal online Gênero e Número, muitos "influencers" estão fazendo campanha para familiares ou apelando para o lado religioso dos que os acompanham nas plataformas de comunicação. Mas, afinal, ter uma boa quantidade de seguidores se traduz de fato em sucesso eleitoral?

Discernimento das pessoas aumentou durante a pandemia

A jornalista especializada em marketing digital e mídias sociais Patrícia Andrade Ladeira é enfática ao afirmar que ter milhões de seguidores não é garantia de nada. Ela explica que o funcionamento atual dos algoritmos “segura” a distribuição de um conteúdo publicado entre os seguidores.

“Não adianta uma pessoa ter 10 milhões de seguidores se apenas 10% desse público vão ter acesso ao que foi publicado. Naturalmente que se uma pessoa tem 1 milhão de seguidores, este conteúdo será mais visto do que aquele que foi publicado por quem é seguido por mil pessoas, por exemplo. Só que isso não é uma garantia de que aquilo que você fala é 'lei', até porque tem seguidor que vai discordar do que foi publicado”, destaca.

Patrícia vai além e explica que o aumento de pessoas em casa, por causa da pandemia, ampliou o discernimento entre quem tem o hábito de consumir informação publicada nas redes sociais. Isso possibilitou que os atuais atores digitais, na visão dela, não tenham a mesma capacidade de influenciar o eleitorado se comparadas as eleições deste ano com as de 2018. Mas ela faz uma ressalva: o número de quem acredita em qualquer coisa, sem questionamentos, ainda é grande.

“Por causa da pandemia, muitas pessoas começaram a se ocupar em casa acessando os conteúdos virtuais. Isso fez com que o público passasse a ser mais criterioso na hora de acessar a informação através das mídias sociais. Só que não existe a figura do editor nas redes. Então como falta esse 'curador' para determinado tipo de conteúdo, naturalmente vai ter quem acredite em tudo o que é publicado. Mas mesmo assim, esse percentual hoje é menor do que na eleição passada”, pondera Patrícia.

Responsável por criar e divulgar a campanha do candidato Cabo Daciolo à Presidência em 2018 nas redes sociais, a especialista explica que quanto mais humanizada - soando autêntica - a estratégia do político nas mídias digitais, melhor será para seu eleitorado.

“O ideal é buscar e mostrar para o eleitor o quão humano você é. Esquece ferramenta digital, disparo em massa de mensagens automatizadas e de robôs que fazem 5-3-1 (ferramenta digital de envio de mensagens). O ideal é o trabalho orgânico, mesmo sabendo que o algoritmo só permite que até 10% dos seguidores vejam o conteúdo. O corpo a corpo digital é muito importante desde que o seguidor/eleitor perceba que o candidato é real, e não mais um fake”, finaliza.

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